sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Outro Lugar


As vezes, quando estamos perdidos recordando nosso passado, acabamos lembrando de histórias engraçadas ou casos que ficaram sem respostas e que acabaram ficando por isso mesmo. Foi um desses casos que me peguei pensativo em meio a conversas de família. Claro que todos riram de mim quando contei, criando mil respostas de porque o que eu disse não poderia ter acontecido e logo mudando de assunto, mas eu estava lá e sei bem de tudo o que vi.
Bom, deixa eu começar do começo. Eu era o típico jovem que trabalha numa coisa chata de dia para bancar a faculdade que quer a noite. Nos dias que eu tinha aula eu ia direto do escritório, precisava pegar dois ônibus, um que me deixaria na rodoviária e outro até a faculdade. Qualquer ônibus que eu pegasse, independente do caminho, me deixaria no mínimo perto da rodoviária, então eu simplesmente fazia sinal pra qualquer um que estivesse chegando e ficava completamente despreocupado, pois sabia que de algum jeito eu chegaria no meu destino. Foi sempre assim durante todo o tempo que trabalhei por lá, e foi assim que o tal fato estranho aconteceu.
Como todos os dias, saí do trabalho às 18 horas em ponto, fui até o ponto conversando com o pessoal e tão logo avistei um ônibus chegando. Não prestei atenção em qual seria seu número, pois estava abrindo o arquivo de uma matéria que me enviaram pelo celular. Fiz sinal e quando o ônibus parou entrei com os olhos no celular. Apenas eu entrei. Como disse, não me importava, afinal, qualquer um me deixaria onde eu queria.
Sentei num dos bancos altos do lado da janela e saquei meus fones de ouvido. Com uma rápida olhada percebi que tinham poucos passageiros, o que é estranho, já que era o horário em que muitos saiam do trabalho, logo seria raro um ônibus vazio, era esquisito, mas não me importei, tinha uma apostila de cálculos pra ler, era mais importante.
O ônibus tinha atravessado poucos quarteirões quando uma senhora no banco de trás me cutucou. Seus cabelos brancos, sua frágil pele enrugada e seus óculos de armação grossa retrô davam a ela um ar simpático. Ela fez um sinal de que queria falar algo e tirei os fones para ouvir.
“Meu jovem, acho que você está no ônibus errado, não?” Ela perguntou meio que afirmando. Eu dei um sorriso meio tímido e respondi que não, que ele me deixaria no ponto certo. Estava pronto para virar e voltar a minha leitura, quando a senhora me chamou de novo.
“Meu jovem, você pegou o ônibus errado.” Dessa vez ela realmente afirmou. Eu estava abrindo a boca para respondê-la quando percebi uma outra mulher se sentando do meu lado. “Não, ele não vai para Setealem. Com certeza é o ônibus errado” disse a segunda mulher. “Sete...quem?” Me perguntei.
“Acho melhor você descer do ônibus rapaz”  Falou um homem sentado do outro lado do corredor. Esse cenário todo estava ficando esquisito e invasivo. Cacete, quem eram eles pra afirmar que peguei o ônibus errado?
Me preparei para responder sério a senhora que começou com isso, mas o que vi não era mais o simpático rosto de uma idosa, mas uma carranca enfezada de desprezo e raiva que me encarava com esquisitos olhões amarelos que eu não havia reparado que ela tinha. A mulher que sentou do meu lado também me encarava com esses mesmos olhos amarelados e o homem do outro lado do corredor também. Quando dei por mim, todos os passageiros do ônibus estavam olhando para mim com esses olhos assustadores. Me senti pequeno...morrendo de medo...apavorado com todo esse momento bizarro. Mais um homem veio em direção de onde eu estava, ele saiu lá do fundo do ônibus e era monstruosamente grande se comparado a todos os outros passageiros. Ele me fitou por um tempo, até que fechou a cara e  falou com autoridade: “Melhor você sair e pegar o ônibus certo garoto.”
O ônibus parou com uma freada brusca. Todos continuavam a me encarar, como se eu fosse um parasita invadindo aquele lugar. Me senti  cada vez mais acuado, tentava falar mas já não tinha mais certeza de nada. Resolvi pegar minha mochila e finalmente descer. Eles me acompanharam com os olhos até que eu chegasse na porta.
“Toma cuidado, você não vai querer ir pra lá por engano.” Falou o motorista completamente apático enquanto eu passava por ele.
Desci do ônibus e fiquei estático por um tempo vendo ele se afastar até finalmente sumir virando em uma esquina que nunca vi nenhum ônibus entrar. Racionalizar todo aquele estranho momento não me ajudou em nada, porque eu não consegui pensar em nenhuma resposta plausível para o que diabos tinha acontecido. Pelo menos, pra minha sorte, o lugar onde eu fiquei não era muito longe do ponto no qual eu tinha iniciado essa viagem maluca, então acabou que não demorou muito até chegar outro ônibus (e é claro que dessa vez eu olhei com atenção o destino dele no letreiro).
Me sentei na janela novamente e fiquei olhando a paisagem passar para tentar esfriar a cabeça, até que passei pela rua na qual minha antiga condução havia virado. Meus olhos esbugalharam tamanha a surpresa que tive: aquela rua era uma vila sem saída e nela não havia nenhum ônibus.
Naquele dia eu não consegui prestar atenção na aula e acho que sequer consegui dormir, lembrando dos assustadores olhos amarelos daqueles passageiros. Fiquei pensando no nome do lugar que eles falaram, e resolvi procurar no mapa para ver onde seria esse lugar, pois nunca tinha ouvido falar. “Endereço não encontrado”... É claro que não.

Então, como eu tinha falado, esse é um daqueles fatos que deixam você pensativo durante um tempo, mas que você acaba se esquecendo. Pensando bem, acho que eu preferi esquecer, é melhor assim, não quero voltar a andar por aí com medo, não de novo. De qualquer forma, agora que esse tal lugar voltou a minha mente eu devo acabar tentando saber exatamente onde ele fica, para que eu nunca passe perto dele. Então se você souber de algo, me avise, e por favor, tome cuidado, pois você não vai querer parar em Setealem.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Distúrbio


Não sei o que estou fazendo aqui, tão longe de minha casa. Sei que conheço essas ruas escuras e sinuosas, mas não consigo recordar de onde. Meu corpo se move certo de que sabe o que está fazendo, e minha mente confusa me engana e só permite que os músculos tomem o comando.
Me lembro de ter pego o trem, mas tudo depois disso não passa de um borrão nebuloso repleto de imagens emaranhadas com informações abstratas.
Me sinto mal. Está frio e estou de casaco, mas suando de maneira incontrolável. Tontura e cansaço me tomam, como se eu tivesse andado por dias a esmo até chegar aqui. Minha respiração ofegante e minha visão sem foco diziam que eu deveria parar, mas não o fiz até chegar ao meu destino.
A minha direita havia uma semi construção inacabada de alguma coisa que não conseguia identificar. A minha esquerda uma rua que subia até onde a neblina não deixava mais eu enxergar. A minha frente uma casa grande, com um pequeno jardim com brinquedos para crianças. Não havia muros, apenas grades, que me permitiam ver até o interior do terreno. Alguns carros passavam e eu desviava meu rosto para não ser reconhecido. Sim. Eu conhecia aquele lugar.
Joguei o capuz sobre a cabeça e fiquei parado observando essa casa. Já estava tarde e o mais provável era que ninguém aparecesse até o outro dia. A essa altura nada mais me importava.
Minha respiração pesada me fazia parecer um predador esperando sua presa. Minha mão tremia, não sei se por que eu estava mal ou se era de ansiedade. Uma gota de suor escorreu da minha testa direto para meu olho, o fazendo arder.
Mais um carro. Abaixo a cabeça para não ser notado.
Quando levanto vejo que alguém está andando no quintal da casa brincando com o cachorro. Era ela. Por um segundo me senti abraçado pela distante presença daquela criatura. Ela continuava linda e seu corpo se mantinha delicioso como sempre. Um segundo que meu olhar voltou a ter  foco. Lembranças das mais alegres até as mais luxuriosas piscavam tão rápidas quanto flashes de uma câmera.
Entretanto, tão rápido quanto a calma me veio, ela me foi tirada. A respiração voltou a ficar pesada. O foco passou a ser uma obrigação maligna. O calor que já estava sentindo aumentou de um jeito que me fazia sentir no próprio inferno. Meus dentes rangiam com tanta força que pareciam que iriam se quebrar. Meus músculos se enrijeceram. Aquela imagem antes boa agora não me passava nada além da sensação de asco e repúdio, a simples visão daquele sorriso debochado me deixava com um ódio indescritível, sentia que poderia matá-la a qualquer momento.
Matar.
Por isso que eu estava aqui?
Me abaixei e peguei a maior pedra que consegui. Apertei com tanta força que as pontas de meus dedos se feriram com o atrito. Me preparei para atravessar a rua. Seria o fim.
Outro carro.
Abaixei o capuz para esconder meu rosto. Sequer ouço o som de seu motor. A luz do farol dele some. Levanto meus olhos e vejo que ela ainda está lá. Como um canibal, eu estava preparado para atacar e regozijar-me em seu sangue. Mas, algo me distrai.
Meu celular toca e me desperta do que parecia ser um transe satânico. Não sei quem é, o número não está salvo. Não. Ele está, mas não enxergo seu nome direito. Atendo. Uma voz preocupada me pergunta onde eu estou e como eu estou.
Estou mal.
Me sinto mal. Está frio, mas estou empapado de suor dentro do casaco. Não sei como cheguei aqui. Esse lugar? Tenho certeza que nunca vi esse lugar, nenhuma dessas ruas escuras e sinuosas. O que essa pedra está fazendo na minha mão? Droga, machuquei meus dedos.
Na verdade eu conheço bem essa voz. Desculpe por assustar, preciso voltar pra casa agora.
Desligo o celular. Na tela dele vejo coisas escritas. Palavras assustadoras que me fazem pensar na minha fraqueza. Droga, aconteceu de novo.

Espero meu ônibus com lágrimas escorrendo em meu rosto. Acho que essa noite não vou dormir bem...

domingo, 27 de agosto de 2017

Aquele dia, no ônibus

O dia tinha começado chato, afinal, só mais uma ida para o trabalho. Pontos lotados, trânsito parado, mais um dia ingrato.

Só queria chegar e me sentar em frente ao meu computador, das minhas costas aguentar a dor, é um horror.
Mas no ônibus algo estranho aconteceu.
Aquela garota apareceu.
Que isso meu Deus?

Ela era linda, estava distraída mexendo no celular, senti vontade de com ela falar, mas como iria começar?

"Hey, você é linda!"

AAAAAAAAH!!!

Eu falei isso com a cara de imbecil, mas, olha que engraçado, ela riu.

Começamos a conversar. A viagem foi boa, mas tive que saltar.

"Te vejo de novo?" perguntei. A porta se fechou sem resposta.
Afinal, acho que endoidei.

Era só um momento diferente, afinal algo pra me livrar da mesmice de sempre.

Uma paixonite de ônibus, um sorriso que fez bater forte meu coração, uma diferente sensação.

Pensando bem, talvez esse meu caminho não seja para sempre sozinho. O que será que meu próximo ônibus vai me revelar?

Só me resta aguardar!

domingo, 16 de julho de 2017

Aparição


Essa história aconteceu a alguns anos atrás, bem antes de eu me mudar para esta cidade de casas iguais e prédios que escondem o sol. Ela foi lá no interior, onde o espírito dos cidadãos ainda não foi afetado pelos seus sorrisos frios e falsos. Pode pensar o que quiser sobre isso, mas te garanto que para mim há tanta realidade no que conto quanto possa imaginar.

Aconteceu em uma noite de sexta-feira, num pequeno cantinho perto da região que eu trabalhava. Nesse dia eu tinha saído cansado com meu compadre da uma das cansativas obras que fazíamos e como de costume, fomos relaxar um pouco bebendo alguns goles e conversar sobre a vida.

Pegamos nossas coisas e fomos beber perto da beira de um morrinho que dava visão para algumas pequenas casas antigas ao longe. Lá havia uma antiga árvore, que alguns moradores mais próximos diziam ver um senhor vestido como um mendigo, mas que ninguém conhecia.

Quando chegamos lá e começamos a tirar nossas coisas da mochila, percebemos que um de nossos copos havia quebrado, então resolvemos dividir o outro canequinho de barro que conseguimos. Pegamos a cachaça e começamos a beber, cada um tomando um gole de cada vez.

Falamos muito sobre os problemas do trabalho, sobre o futuro casamento de minha sobrinha e sobre o nosso sonho de nos mudarmos para uma  das grandes metrópoles do país. As horas se passaram e nem percebemos isso. O vento estava fresco mas nossos corpos se mantinham quentes graças a pinga. A única coisa que fazia a gente parar de falar eram as goladas no álcool e o único som que nos atrapalhava além dos grilos era o do latido de alguns cachorros ao longe .

Perto da meia noite, já um pouco abalados por conta da bebida, sentimos o ar gelado mudar e dar lugar a uma estranha brisa quente. Embora sentíssemos na pele, com até nossas roupas se sacudindo, nenhuma folha da árvore se sacudia, mas apesar de estranharmos, continuamos lá bebendo, um gole de cada vez.

Depois de mais alguns goles, percebi uma presença se aproximando de onde estávamos. Ele chegou e com uma voz rouca e lenta pedindo um gole da cachaça. Como se fosse para um amigo, eu enchi o caneco e sem nem olhar estendi a mão para o homem, que demorou um tempo para tomar alguma ação, até que disse: "Pô meu rapaz, eu já vivo sempre no barro e você ainda quer que me dar de beber do barro?"

Não entendi de começo ou não quis entender. Levantei meus olhos aos poucos e vi o que foi suficiente para me fazer ficar sem dormir direito por meses. Vi uma figura esquelética encapuzada usando trapos pretos. As unhas de seus pés e de suas mãos eram saltadas, rachadas e sujas, o pouco que estava a mostra de sua pele revelava um tom pálido e ressecado. Seu rosto era praticamente feito de uma escuridão infinita, com olhos tão negros que pareciam refletir a luz da estrela mais distante. Ele sorria com poucos dentes podres e com a veracidade de um demônio.

Eu fiquei estático, meu braço ficou lá esticado com o caneco de barro na minha mão trêmula. Um suor gelado começou a escorrer de minha testa e por mais que eu tentasse clamar por Deus naquele momento, minha voz simplesmente não saía.

O ser levantou sua mão ossuda e mirou em meu rosto. Um momento que pareceu uma eternidade que só foi quebrado quando meu compadre arrancou o caneco da minha mão e falou imponente: "Se é do barro que tu vens, é para o barro que voltarás".  Ele disse isso jogando a cachaça no chão.

Um vento quente soprou tão forte que quase me derrubou e bem ao longe deu pra se ouvir um trovão. Pouco a pouco o tempo foi se acalmando e o ar quente voltou a ficar fresco como quando chegamos lá. Olhei ao redor e não havia nenhum rastro daquele homem de preto. Olhei para meu compare que estava recuperando fôlego, visivelmente trêmulo. Tentei acreditar que tudo não passava do efeito do álcool agindo em nossas cabeças. Mas se fosse isso, como os dois poderiam estar bêbados e vendo a mesma coisa?

Ele pegou o caneco e o prendeu de boca para baixo no chão de terra, secou o suor da testa e deu o último gole direto no gargalo da garrafa de cachaça e a jogou no chão também. Se levantou e botou a mochila nas costas: "Vamos", disse ele. Só consegui limpar a poeira da roupa e cambaleante acompanhar ele.

Nunca tocamos no assunto, não sei como ele fez aquilo e nem como ele sabia como fazer, na verdade, eu nunca quis perguntar. Eu conseguia ver em seus olhos que ele também tinha sido marcado por aquele evento de alguma forma. Não demorou muito para que saíssemos do nosso trabalho e finalmente nos mudássemos para bem longe daquela cidadezinha isolada. Queríamos distância de qualquer coisa que fizesse nos lembrar daquela figura encapuzada.

Admito que ainda não sei se aquilo que vimos foi efeito da nossa bebedeira, se foi algum golpe de nossas mentes cansadas impressionadas pelos contos folclóricos da região ou se ficamos malucos de vez. Mas eu digo pra você, que mesmo depois de tanto tempo, toda vez que eu bebo algo, o primeiro gole vai para o chão, pois ele sempre é do santo.

sábado, 15 de abril de 2017

No Centro do Caos


Naquela noite eu conheci o caos.

Esse é um dos milhares de pensamentos que vem me atormentando já a alguns dias, pensamentos estes que vão da dúvida mais simples, como o porque de acordarmos a cada dia, até a mais complexa, como a verdade por trás dos acontecimentos cósmicos mais impressionantes. 

Tudo isso me veio a mente depois do que ainda não sei se foi sonho ou realidade, viagem astral ou algum tipo de distúrbio do sono, ou efeito de algum remédio que eu talvez tenha tomado antes de dormir, ainda estou tentando descobrir. 

Como sempre, eu havia chegado tarde em casa e como estava muito cansado não fiz muita coisa além de tomar banho e preparar algo para comer. Foi uma refeição simples, um bife com ovo frito, fácil, rápido e saciaria minha fome. Me sentei no sofá mesmo e lá jantei assistindo televisão, era algum programa desses feitos para impressionar, falando sobre os deuses astronautas, e das prováveis influências que eles tiveram na história da humanidade. Construções, mitos, "visões", tudo isso causado pela passagem desses seres na vida dos nossos antepassados. 

Particularmente, nunca me importei muito com essas teorias, mas gosto de ver as pessoas realmente interessadas em debater sobre elas, mas como dizem:"a ignorância é uma bênção".

Mesmo tendo terminado de comer continuei ali sentado, com o prato vazio equilibrado no braço do sofá. Fiquei observando o debate sobre a criação de religiões com base nas aparições de extra terrestres, mas no meio dele acabei cochilando.

Devo ter apagado por uns trinta minutos, o programa já tinha acabado e no seu lugar estava passando alguma coisa sobre invenções, não entendi muito bem. Me levantei e deixei o prato na cozinha, enfim seriam os últimos preparativos para eu ir para a cama e descansar de vez. 

Cama preparada. A última coisa que fiz foi abrir a janela do quarto, pois lá estava muito quente e o vento que vinha de fora deixava o ambiente bem mais arejado. Me deitei. Pretendia ter uma boa noite de sono e acordar bem tarde, já que no dia seguinte seria minha folga. 

Adormeci.

Acabei acordando no meio da madrugada com um barulho alto vindo lá de fora. Levantei um pouco tonto e rabugento e fui na janela ver de onde ele vinha, mas logo que cheguei nela o som parou repentinamente. Não consegui ver nada, ainda não sei se por realmente não ter nada lá ou se porque eu ainda estava com a visão debilitada por causa do sono, só sei que não havia nada de anormal.

Ao voltar para a cama, logo que me deitei, o som voltou, tão alto e repentino quanto da primeira vez. Ele era grave e oscilante, nada parecido com alguma coisa que eu conseguia lembrar aquela hora da noite, porém dessa vez ele veio acompanhado de um vento muito forte, que jogou minhas cortinas para o alto e derrubou algumas coisas no meu quarto. Levantei assustado e fechei a janela. O barulho parou novamente, como o corte de um maestro, seco e repentino.

Confuso, preferi arrumar a bagunça só ao amanhecer e mais uma vez me deitei, acreditando que enfim iria voltar a dormir, mas quando estava quase conseguindo, mais uma vez barulho, que mesmo abafado pela janela fechada, continuava alto e parecia aumentar a cada momento. Aparentemente o vento também havia voltado, com tanta força que parecia que iria levar minha casa embora.

Assustado, saí da cama e iria para a sala, quando algo realmente diferente aconteceu. Luz. Uma luz tão forte que mesmo passando apenas pelas frestas que minha cortina deixava, conseguia iluminar meu quarto como se fosse dia. Nesse ponto a ventania batia como socos em minha janela, era como se pedisse para eu abri-la e o convidasse para entrar, mas minha reação era apenas a de estar paralisado com medo de tudo aquilo.

O vento parou. Mas a luz e o barulho continuavam ali, me chamando, sedutores e cativantes. Trêmulo, fui até ela, precisava saber de onde vinha. Levantei minha mão e abri as cortinas e a partir daí nada mais do que vi sairá de minha mente. Lembro da luz se expandindo e com um estrondo, explodindo minha janela e me tragando para dentro dela.

Gritei com toda a minha força enquanto era arrastado para fora de meu quarto, tentando inutilmente me agarrar a alguma coisa, mas fui puxado com tanta velocidade que quando dei por mim, a imagem da minha casa já não passava mais do que um pequeno ponto diminuto num emaranhado de outras casas. A luz me levara para cima, pouco a pouco me afastando da minha vizinhança, do meu bairro, minha cidade, meu país, e do....planeta.

A luz se afastou, me largando sozinho no vácuo do espaço. Me debati desesperado com medo do que a falta de oxigênio poderia fazer comigo. A falta de referência de o que era cima ou baixo me desorientava e causava uma leve sensação de náusea. De tanto me sacudir acabei rodando sobre meu próprio eixo, por tempo o suficiente para perceber que não fazia diferença se eu respirasse ou não. Observei a Terra passando algumas vezes pela minha visão, já distante o suficiente para parecer uma bola de futebol em minhas mãos, uma bola azul e brilhante. Dessa distância ela era linda e calma, e transmitia essa calma para mim através do vácuo do espaço entre nós. Pouco a pouco permiti meu corpo se acalmar, a falta de gravidade não me permitiria fazer muita coisa, então preferi apenas relaxar. Sentia meus braços e pernas formigando, como se cada um dos músculos e tendões estivessem sendo desligados, tirados de meu controle e me deixando a deriva.

Nada.

Apenas nada.

Estava boiando sozinho na imensidão do espaço escuro, me afastando cada vez mais da Terra, que não passava um ponto distante quase sem irreconhecível. Passei pelos anéis de Saturno, observando a dança cósmica de inúmeras rochas em perfeita sincronia, quase tão a deriva quanto eu. O céu nunca foi tão lindo, nunca foi tão estrelado, se é que eu ainda poderia chamar aquilo de céu, já que eu estava nele agora.

Vagando no vazio, observando brilhos e formas indistintas que jamais imaginei ver, naquele momento só meu e da eternidade, acabei tendo visões. Me vi como uma criança, inocente e pura, brincando com minhas bolinhas de gude no sítio que meus pais me levavam. Me vi correndo com a pipa vermelha que eu tanto gostava. Me pulando no colo do meu avô, apenas para ouvir as histórias de quando ele era mais novo. Que saudade daquele velho. A inocência da infância deu lugar a um adolescente rebelde, inseguro, mas bagunceiro o suficiente para sempre chegar em casa com um olho roxo das brigas que arranjava na escola. A primeira vez que repetia de ano, a primeira vez que bebia, a primeira droga que experimentou, a primeira transa com a primeira namorada que nunca se importou comigo.

Essa era a minha vida passando diante dos meus olhos. Será que isso queria dizer que eu morri e que consegui alcançar a eternidade? Logo eu?

O sistema solar já não era mais visto. Eu já estava envolvido por nuvens de gases e poeira de rochas. Passei por diversas estrelas, de diferentes cores, brilhos e tamanhos e por diversos planetas vazios e frios. Mas a única coisa que consegui sentir foi paz. Não sabia como havia parado ali e nem por que, mas só aceitei e me deixei ser abraçado pelo esquecimento.

Entretanto, algo diferente, uma sensação, uma pressão que eu já conhecia. Uma luz vinha se aproximando de mim e quanto mais perto, mais uma pressão oscilante forçava meu peito. Eu conhecia isso. Era a luz que me arrastou pra cá. Ela parou na minha frente, como se estivesse me encarando, e dentro dela, era possível observar um contorno humano, bem mais alto que eu, mas com a face ofuscada pela luz, impossível de definir feições. Ele estendeu a mão e com um toque quase imperceptível me empurrou.

Por mais que o empurrão parecesse ter sido fraco, ele me fez voar para longe com extrema velocidade, transformando a imagem de tudo o que eu via em borrões e riscos. Tentei me sacudir para tentar parar, mas a falta de gravidade não me dava outra opção a não ser aceitar ser levado.

Viajei o espaço entre nebulosas como a luz até sentir uma força me freando aos poucos. Senti que meus órgãos iriam sair de meu corpo, minha cabeça parecia um liquidificador, a sensação de náusea me veio mais forte que nunca.

Entrei no que parecia uma grande nuvem cósmica. De todos os lados clarões, turbilhões e pedras gigantes se chocando e se destruindo. Eu me aproximava de uma grande massa de sujeira, que parecia ser o centro dessa anomalia. Não só eu, mas tudo a minha volta ia em direção a isso, que, a principio, acreditei ser algo parecido com um buraco negro, mas logo vi que estava enganado.

De todas as sensações e sentimentos que já tive em minha vida, nada se iguala a o que eu sentia enquanto me aproximava daquela coisa. De longe parecia ter o tamanho de um planeta, mas agora, vejo que qualquer medida que me viesse a cabeça seria impossível de ser usada.

Não tenho noção da distância que eu estava daquilo, e não tinha noção se ele poderia me notar. Só pude esperar que não.

Fiquei ali, parado observando o que acreditei ser o centro do caos, que acabava convergindo naquela dantesca criatura cósmica. Ela era uma massa gigantesca de uma composição indefinida, que mais parecia com uma confusão de explosões de diversas galáxias dentro de um amontoado de tecido gelatinoso. Tinha milhares de olhos do tamanho das maiores das estrelas e para cada um desses olhos haviam outras centenas de bocas que mais pareciam buracos negros tragando tudo o que estivesse ao alcance. De diversos lugares dessa massa saíam feixes de luz que cruzavam o espaço como grandes tentáculos agarrando os mais distantes dos sistemas solares. Qualquer coisa no raio de milhares de anos luz estava sendo destruído por aquilo, provavelmente sem ter conhecimento de onde vinha.

Morte. Caos. O fim de tudo. Imaginei milhares de nomes possíveis e impossíveis para descrever aquela coisa, mas de algum jeito que eu não sei explicar eu sabia seu verdadeiro nome.

_"Azathoth"_ sussurrei.

 Tal nome soava como uma blasfêmia proferida por meus lábios. Nenhum homem são deveria passar pelo horror de olhar para aquela criatura amorfa, pois contemplar aquela imagem trás apenas o frio que se deve sentir no último sopro de vida.

Do meio daquela indescritível confusão cósmica mais uma coisa conseguiu prender minha atenção. Um som, tão sublime e hipnotizante quanto o horror que presenciar aquela destruição. Parecia o sibilar agudo de uma flauta de notas tortas e aterrorizantes. A criatura quem estava tocando, e pouco a pouco me trazia mais para perto. Por um segundo consegui me desprender do controle que estava submetido e olhei para o outro lado. De alguma forma consegui enxergar a uma eternidade de distância o planeta Terra e percebi que ela estaria na rota dessa coisa.

Meu corpo estava travado como uma estátua, sendo puxado para o que seria a minha morte. Um dos milhares de gigantescos olhos lentamente mirou em mim, me dando a certeza de que eu havia sido notado e finalmente conduzido pelo som de uma tenebrosa melodia para a morte e consumido pelo destruidor cósmico.

Não tive forças para gritas, meus músculos não existiam mais, e a sensação de dormência passou a ser apenas um inconveniente. Fechei os olhos e aceitei.

Nada.

Apenas nada.

Isso o que eu imaginei ser a morte, como ser largado na imensidão do espaço e vagando sem rumo por infindáveis galáxias.

Quando estava prestes a ser comido como um simples aperitivo, senti uma sensação conhecida, oscilante e quente. O ser de luz apareceu novamente e parou na minha frente, como se estivesse me observando. Ele estendeu a mão e tocou em minha testa forte o suficiente para me afastar daquela criatura e me arremessar novamente na velocidade da luz espaço a dentro. Vi novamente tudo o que eu tinha visto antes, nebulosas, galáxias, estrelas, planetas, tudo passando como borrões espectrais a minha volta. Num piscar de olhos estava entrando na Terra e com um grito vi o telhado de minha casa se aproximando, só consegui botar as mãos na frente do rosto me preparando para o impacto.

Acordei trêmulo no chão, com meu quarto exatamente do mesmo jeito que eu havia deixado quando fui dormir. Estava encharcado de suor e com dificuldade de respirar. Levantei devagar completamente tonto e com uma dor de cabeça absurda. Apesar de tudo, fiquei aliviado ao perceber que tudo não passou de um sonho, um sonho muito real, mas ainda um sonho. Devo ter passado mal durante a noite, só isso. Me apoiei na parede e dei uma risada nervosa ao relembrar de toda aquela loucura que passei.

Fui cambaleando em direção a porta do quarto para beber uma água, mas no caminho algo fez meu sorriso sumir e me sentir medo de novo. Um vento forte tomou meu quarto, algo o iluminou como dia e a pressão e o som oscilante, tudo estava lá. Sem fôlego me virei devagar, e quando meus olhos se adaptaram a luz, consegui ver de dentro dela aquele homem que não conseguia definir antes, tinha a pele branca, vestido com uma roupa azul e dourado. Seus olhos eram pequenos, dos azuis mais claros e aconchegantes que já vi e seus cabelos loiros se moviam como se estivesses levitando no ar. A luz vinha da palma de sua mão direita, que estava levantada na altura de seu peito.

Percebi que ele não era a ameaça, talvez tudo aquilo tenha sido como um aviso ou um alerta, que eu deveria aprender a interpretar. Me ajoelhei perante aquele momento, quase sem fôlego para me manter acordado, e com todas as forças que eu tive perguntei quem ele era. Ele se moveu em direção à janela, como se seus pés não tocassem o chão e com uma voz calma e sussurrante me respondeu em poucas palavras, apenas para desaparecer nos céus noturnos, onde se confundiria com tantas outras estrelas.

Como eu disse, não faço ideia se o que passei foi um sonho ou foi realidade, mas com certeza lembrarei dos momentos que tive fora de meu corpo terrestre. Levei muito tempo para me recuperar, meus músculos ficaram dias sem responder direito e a sensação de náusea até hoje se mantem. Quando olho para o céu, tenho medo de ser visitado novamente pela imagem apocalíptica do caos, mas principalmente, nunca vou esquecer daquelas palavras que pareciam ser ditas para o interior da minha alma, o nome daquele ser de luz que me visitou e me trouxe a trágica mensagem, aquele que se chamou de Ashtar.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Sobre Ela

              
Ela sempre esteve ali, mas só a pouco tempo prestei atenção. Só a pouco tempo notei sua beleza, mesmo sem conhece-la direito.
Não sei como, mas eu consegui me aproximar. Apenas um oi, apenas um olá. Ela me acolheu tão bem, praticamente me pegou pela mão e me levou pra dançar.
Me apresentou lugares inomináveis, que provavelmente eu jamais iria. Lugares belos que a solidão dos eventos sempre fizeram parecer cinzentos e sem graça.
Ela me fez lembrar da paixão pelo desconhecido, na verdade, sempre compartilhamos dessa paixão, mas nunca dissemos nada pra ninguém.
O silêncio de sua imagem refletida em um espelho passou a ser tão convidativo quanto o sorriso da mais linda das mulheres ou dos versos mais articulados de um trovador.
O que dizer dela? Tão simples, mas aparentemente tão complexa.
Encanto. Talvez essa seja a palavra que mais falei depois de dar ouvidos a ela, que quase me fez confundir o real da mera ilusão.
Pra falar a verdade, acho que nem sei o nome dela. Para mim, ela poderia ser chamada de tudo ou de nada. De calmaria ou tempestade. De maravilhosa ou de incontrolável. Ainda não sei.
Acho que por enquanto ela pode ser chamada apenas de Vida.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Sobre a vida

Hoje eu pensei sobre a vida.
Eu sei que é estranho, provavelmente difícil de entender, mas acho que é como eu disse pra uma amiga minha uma vez, que ser contemplativo as vezes tem suas vantagens, e dessa vez eu acabei pensando  demais em mim mesmo. Geralmente eu odeio isso, mas dessa vez eu tenho certeza que esses pensamentos levaram a algumas respostas bem interessantes, ou não, quem vai saber.
Não sei dizer quando exatamente essas idéias começaram a vir, mas eu tenho quase certeza de que foi em uma festa, dessas bem animadas, todos curtindo felizes, e eu, como sempre, encostado em uma parede, com cara de paisagem e uma garrafa de cerveja na mão, simplesmente observando, o quanto todos conseguiam se divertir e eu não, quando meus olhos pararam nela, uma menina que eu havia conhecido a pouco tempo. "Nossa, ela era tão bonita assim?"_ Pensei.
Lá, parado, observando atento a ela, vi o quanto ela estava pulando feito louca enquanto tocava alguma música que eu não conhecia do Legião Urbana, percebi o quanto as luzes pulsantes da iluminação transformava tudo em um grande momento lindo e  alucinante que, por algum motivo, eu não conseguia participando.
Eu queria estar lá, eu queria estar pulando junto deles, junto dela, mas alguma coisa muito mais forte que eu me prendia no lugar onde eu estava, me impedindo de estar lá, algo exercendo pressão no meu peito, me imprensando na parede, como uma grande negação. Isso de alguma forma me deixou triste, afinal eu queria estar feliz, mas nunca conseguia.
Dei uma golada na cerveja e senti o líquido descendo pela minha garganta, me refrescando os pensamentos. Por um instante minha mente deixou aquele lugar barulhento e vagou pela lembrança de uma paisagem mais solitária, de um dia em que mudei minha rota e terminei vagando pela zona portuária da cidade. Lá eu me sentei na grama e fiquei por horas sem falar nenhuma palavra, apenas observando o horizonte e meditando sobre os vais e vens do universo, sobre todas as pessoas que aparecem na nossa vida e todas as que se vão sem sequer dizer adeus, sobre as probabilidades boas e ruins que a inevitabilidade dos nossos dias podem nos dar, sobre o passar acelerado dos dias, que com um único acontecimento podem vir a se tornar os mais lentos de nossas vidas.
Era final de tarde e, ao longe, o brilho avermelhado do sol refletia na água, que tocava suavemente as pedras das margens do porto. Por vezes uma ou outra pessoa cruzava meu campo de visão, patinando ou andando de skate, outras ficavam na beira das grades de proteção observando e aplaudindo a buzina de grandes navios de viagem que estavam de partida. O vento fresco e úmido tocou meu rosto como um carinho, me lembrando que era hora de partir, então me levantei e dei uma última olhada ao redor, para que a imagem sempre estivesse guardada na minha mente quando eu precisasse lembrar de um momento só meu em um lugar agradável.
Novamente um toque em meu rosto que enfim me fez acordar. Retornei a festa, agora já tocando algumas versões das músicas do Charlie Brown, e o que estava tocando meu rosto não era o vento, mas um toque suave das mãos da garota que eu estava observando a um tempo. Ela me olhava com um olhar brilhante e preocupado, me perguntando se eu estava bem e, frustrado por ter feito ela sair de onde estava pra vir me perguntar isso, eu acabei explicando pra ela toda a situação, sobre a minha falta de interação com todo aquele povo animado, sobre, mesmo querendo, eu nunca conseguir e o quanto isso me desanimava. 
Ela sorriu, encostou na parede bem ao meu lado e me tirou a cerveja da mão, deu uma golada que quase acabou com todo o conteúdo da garrafa e bateu com ela na minha cabeça. 
"Sabe, eu acho que te entendo. Você passou por uma fase difícil da sua vida e de uma hora pra outra quer fazer uma grande mudança maluca, fazer coisas totalmente diferentes do que sempre fez, surtar, ser vida loka né?"_ falou rindo, mas logo sua voz mudou para um tom mais afetivo_"Eu sei bem como é. Mas faz o seguinte? Tenta dar tempo ao tempo, deixa que ele te ajude a mudar, você não vai conseguir fazer isso de uma hora pra outra e se sentir bem com isso. As vezes você está querendo mudar e começar a fazer coisas que não são a sua, entende? Só vai com calma que você vai se agitar também."_ terminou me devolvendo a garrafa. 
Sim, eu entendi. 
Observei ela pulando de volta na multidão pra voltar a dançar e pensei nas verdades do que ela disse. Não sou obrigado a gostar de fazer o que nunca fiz, um pulo tão grande pra fora do cantinho chamado de zona de conforto tem por lógica ser como um susto para a mente de quem não se preparou direito. Me permiti dar o primeiro sorriso verdadeiro da minha noite enquanto coçava a cabeça aonde levei uma garrafada. Eu estava sozinho ali, mas agora talvez conseguisse ver aquilo tudo por outra ótica. Acho que as vezes só precisamos das palavras de alguém (e de uma garrafada) pra compreender como a vida é uma loucura com regras abstratas.
"Vem"_ tomei um susto com alguém segurando minha mão e me puxando, era ela de novo_"não pensou que você ia escapar de uma dança né?"
Não, eu não estava sozinho. Não tenho a obrigação de passar por nada mais sozinho, como fiquei no dia do porto, olhando o mar sozinho por horas, ou como eu estava nessa festa até agora ou em tantas outras vezes achando que isso seria melhor. Tenho que aprender a aceitar a pouca ajuda que o universo me disponibiliza, curtir o momento da maneira que eu posso. 
Bebi o resto da cerveja e larguei a garrafa no primeiro lugar que alcancei. Permiti meu corpo ser puxado por ela até a multidão, com o incentivo certo, pouco a pouco fui me soltando. Pulamos e dançamos como duas crianças loucas o resto daquela noite, talvez, aquela que seria a primeira noite do resto da minha vida.