quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O perdão que habita em nós mesmos


_Sabe, eu tenho pensado muito em você, em nós, em toda essa situação estranha envolvendo a gente. Não sei exatamente como deixamos as coisas chegarem a esse ponto, tão confuso, tão, estranho. Posso entender se não quiser falar comigo, realmente, acho que faz tempo que nos afastamos, mas eu queria que você entendesse que nunca foi minha intenção, foi tudo um grande erro.
_E depois de tanto tempo me deixando sozinho você vem com essa cara de merda me pedir desculpas? Hum. As coisas devem estar bem difíceis pra você não é?
_Eu sou obrigado a dizer que sim.
_Eu imaginei. E o que você quer de mim? Em que posso lhe ser útil agora?
_Na verdade eu só vim pedir desculpas. Eu quero voltar a falar com você, quero o que tínhamos de volta.
_Desculpas? Você vai embora sem dar satisfação e me abandona por 7 anos. 7 malditos anos e acha que vir aqui de surpresa vai me fazer te perdoar, porra? Você acha que eu sou o que? Uma garotinha apaixonada que vai chorar e te abraçar com o primeiro sinal de redenção ou culpa?
_Eu sei, eu sei. Não esperava que fosse fácil. É que...
_É que?
_Você sabe. Aquele problema de sempre. Eu pensei que eu conseguiria resolver sozinho, sem a sua ajuda, mas quando eu acho que está tudo resolvido, BANG! Essa merda volta pra me atormentar de novo.
 Eu estou perdido. Eu não te deixei aqui por puro sadismo, eu fiz isso pra te proteger. Eu não queria que você passasse pelo que passei. Ta certo, eu fui um idiota, não quis contar nada sobre, preferi dar as costas como se você não existisse, mas agora eu entendo, fingir que você não existe é o mesmo que negar que eu mesmo existo. É uma coisa estranha. É... vazio. Eu vejo todo mundo andando de um lado para o outro, feliz, sempre com alguém que os façam sorrir, seja com uma namorada ou namorado, ou com amigos, são pessoas que estranhamente se combinam, que sempre tem em comum. Mas eu, eu não sei o que acontece, em todo esse tempo não acho ninguém que seja igual, ninguém que sequer seja parecido. As poucas pessoas que encontro parecem se forçar a serem iguais e isso é tão vazio quanto. No final de tudo eu sempre acabo me sentindo sozinho. Pouco a pouco perdi tudo e hoje não consigo mais ter aquela força que você via em mim. Eu só...
_Cala essa boca. Você sempre com esse blablabla de garoto solitário. Você é a vítima? Você é o solitário? Hahahaha. Me poupe dessas suas lágrimas vitimistas. Você diz que vê por aí as pessoas se amando felizes, juntas e de bem. Vou te dizer agora o que eu vejo. Esse mundo que você vê esta fudido. Você está por aí zanzando com esses olhos marejados se importando com pessoas que não se importam com nada além do que elas podem botar no bolso. Ficam rodando como porcos no chiqueiro buscando o reconhecimento de quem nunca vai dar o verdadeiro valor. Isso é o que eu vejo.
 Você fala muito da sua solidão, mas eu que tive que ficar na minha, sem você sequer tomar conhecimento de mim. Já não sei mais quem eu sou, a quantidade de cigarros que eu preciso fumar pra me lembrar ja devem ser o suficiente para me matar. E enquanto eu estou aqui tendo que tentar lembrar de como era quando éramos novos, debaixo da chuva fria, você tem a chance de fazer todas as coisas que você quis e ainda reclama.
_Então você acha que estou fazendo o que eu sempre quis?
_Não está?
_Claro que não. Acho que eu acabei do jeito que você sempre me falou pra não acabar.
_Preso em um lugar que você não gosta, sendo obrigado a repetir uma rotina infita e monótona até os últimos dias da sua vida?
_Quase isso. (Risos)
_Se ferrou. Mas eu também estou nessa. Consegui parar no mesmo ponto que o sr.perfeitinho.
_Pois é. Acho que não somos mais espertos hoje do que quando tínhamos só 15 anos.
_Nem um pouco. Talvez tenhamos piorado um pouco.
_Talvez tenhamos piorado um pouco.
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_Olha, eu-eu te desculpo. Acho que no final de contas eu te abandonei tanto quanto você me abandonou. Eu podia ter ido ficar com você a qualquer momento e nem tentei fazer isso. Admito que fiquei bem puto no início, mas no fundo, sempre acabou em tristeza. A verdade é que, eu não estive com você, mas cara, eu tenho orgulho do que você se tornou. Mesmo com todas as frescuras, todas essas suas viadagens, você se tornou um bom homem. Pode pensar que não estão olhando pra você, mas eu sei que todos estão. Você consegue entender eles mais do que pensa, quando você entender isso vai ver que não vai mais precisar de mim.
_Eu não quero te esquecer de novo. Eu tentei mudar, mas não consegui. Tive medo. Tenho medo.
_Mudanças sempre dão medo, você que me ensinou isso, então trate de parar com essa palhaçada se não eu vou aí e te meto a porrada. Eu entendo essa sua insegurança, mas é isso, somos humanos.
_Somos humanos.
_Somos seres inseguros.
_Somos seres inseguros.
_A partir de agora, sempre que precisar eu vou estar aqui dentro, com você, e sempre que fizer merda eu apareço pra te acordar.
_Será que isso melhora as coisas entre nós?
_Acho que sim. Se não melhorar, agora é o seu que está na reta.
_Verdade. Então tá. Acho que isso não vai ser mais um adeus então né?
_Nem ferrando. Agora vamos quebrar tudo. Até o fim do mundo.
_Até o fim do mundo.