domingo, 19 de janeiro de 2014

O encontro

  Certo dia, dois antigos conhecidos se encontraram no alto de uma conhecida colina de Israel, esta, que dava vista para um campo de grama verde como esmeralda, em contraste com a cor simples do barro de um templo que lá havia. Um desses amigos se chamava Lucius e outro, Cristian.

  Lucius se apresentava com uma postura exemplar, ereto e com a firmeza de alguém da alta classe, vestido com um paletó de negócios impecável. Seus sapatos reluziam, eternamente bem polidos, como se não tocassem o chão arenoso, que fazia parte da área do templo. Aparentava ter uns 30 anos, com feições frias porem bem feitas, quase sem imperfeições na pele, cabelos bem cortados e bem arrumados desciam apenas para cobrir parte da orelha. Seus olhos era de um negro que se igualava a noite mais escura.

  Já Cristian era totalmente o oposto. Andava como um maltrapilho, camisa surrada, muito maior do que seu corpo pedia, repleta de remendos, tal como sua calça que, larga, arrastava no chão cobrindo quase por completo seus pés descalços. Seu cabelo era grande, enrolado e bagunçado, mas em seu rosto havia uma expressão brincalhona, era como uma criança se divertindo, com olhos azuis que brilhavam o reflexo do sol, exaltando uma pureza inominável.

Vindo de caminhos opostos, foram ao encontro um do outro, chegando no centro da colina, onde se encontravam duas pedras, uma ao lado da outra. Elas ficavam de frente a um grande buraco na parede do templo, permitindo uma bela visão da cidade abaixo da colina.

  Eles pararam um de frente para o outro:

_Olá Lucius, _ disse Cristian com uma voz doce, totalmente infantil _ faz muito tempo não é?

_Cristian. _ respondeu Lucius com frieza, se mantendo com um olhar superior _ Sim, sinto como se fosse uma era.

  Os dois se sentaram nas pedras, observando o céu azulado que pairava sobre as pessoas na cidade, que de lá de cima, pareciam meras formigas. Enquanto observavam a imensidão que era a vista que tinham, houve um momento de silêncio.

_O grande dia está chegando Cristian. _ disse Lucius quebrando o breve silencio.

_É verdade. _ começou  desenhar na areia _ Então, o que acha?

_Ora, esse lugar me parece bem diferente desde a ultima vez que nos vimos. As pessoas, elas estão diferentes.

_Também acho, mas não são todas, sabe melhor do que ninguém que não se pode julgar poucos por muitos, afinal, são esses poucos que fazem a diferença.

_Que idiotice, pare de brincar, isso não é um jogo. _ Lucius lançou um olhar de desprezo.

_Não vejo como um jogo, muito pelo contrário, eu nunca estive tão sério. Acontece que eu estou feliz, _ Cristian parou seu desenho, eram pessoas felizes com um sol iluminando _ tanto tempo esperando e o dia finalmente chegou. _ olhou para Lucius com um sorriso amigável _ só assim que posso completar minha missão sabe?

_Essa sua tal missão. Para você é fácil, quando está difícil é só chamar seu pai que tudo se resolve. Mas eu evoluí. Esses poucos bons que tem aí, eu posso mudá-los, com meu dinheiro, minha lábia, minha beleza, é fácil como transformar água em vinho.

  Cristian começou a rir

_Você é muito engraçado. Pra começar sabe melhor do que ninguém que meu pai só ajudará se assim eu merecer, e essa sua tal sedução, ela nunca funcionou, por que seria diferente agora?

  Lucius por um momento manteve um olhar de fúria para Cristian, até que finalmente estourou. Se levantou e arrastou os pés no desenho que Cristian havia feito na areia.

_Não seja tão audacioso, você se acha o melhor só porque ganhou uma vez de mim? Eu posso ser qualquer um que eu precisar, destruir o que eu quiser. Quando alguém sorrir eu estarei lá para faze-la chorar. _ disse isso aos berros batendo no peito, orgulhoso de seus feitos. _ E você? Onde você esteve esse tempo todo que eu fiz o que eu queria? Ainda acha que pode ser tão arrogante a ponto de rir de mim? Se esquece de com quem está falando?

_E você? _ Cristian o cortou, se levantando lentamente até estar olhando nos olhos de Lucius. _ Você sabe realmente com quem está falando? _ se encararam por um tempo _ Talvez eu não seja tão sedutor ou tão endinheirado quanto você, muito menos tão ardiloso. Eu também não posso "ser qualquer um" como você, mas te garanto, não é por isso que eu abandonei a quem precisava de mim. Se você faz alguém chorar, com certeza eu estarei lá para consolá-la, se não for eu, pode ser um dos meus.

_Está falando do idiota do Gabriel?

_Não só ele serpente desprezível, muitos outros. Você pode destruir, mas eu rodo o mundo ensinando a como construir, eu amostro as pessoas como é bom ter um sonho, um sorriso. _ Cristian foi andando para a abertura na parede, de onde se podia ver todo o horizonte, com o sol poente avermelhando a pequena vizinhança ao longe da colina que a muito pouco foi palco de guerras, mas hoje, representa esperança.

_Vê isso? _ perguntou a Lucius que parou ao seu lado.

_O que exatamente? _ perguntou seco.

_Simplesmente tudo. Do grandioso sol, perdido na imensidão do universo até a mínima bactéria que habita o pedaço da região mais peculiar. Tudo isso. É disso que se trata o dia que está por vir.

  Por um momento, Lucius se sentiu extasiado com a visão, se lembrou da sua vida e de tudo que nela já foi conquistado e perdido. Longe em seus pensamentos, se permitiu derramar uma breve lágrima.

_Estou com saudade de casa _ falou preso ao ultimo suspiro do sol _ o pai não deixa mais eu voltar.

_Desculpe, mas isso não vai ser possível, você já fez coisas ruins o suficiente. _ confirmou Cristian.

_Imaginei, _ secou a lágrima, voltando a si _ Bem, está na hora de ir. Ultimos preparativos. _ ficou de costas para Cristian.

_Sim, vamos finalmente resolver isso né. _ sorriu _ tem muita gente que fala nisso, acho que esperam tanto quanto agente.

  Os dois andaram, cada um para um lado se afastando aos poucos.

_Ei Cristian. _ pararam e se olharam por cima dos ombros _ É melhor tomar cuidado, porque dessa vez eu que sairei vencedor.

  Cristian voltou-se de costas mais uma vez, sorriu para si mesmo, com uma alegria que a muito não sentia, continuou a andar dizendo:

_Eu aposto a minha vida que você não vai.

  Os dois desceram a colina, desaparecendo pouco a pouco na penumbra que rodeava Israel, que apenas seguia sua vida comum, sem nunca saber do encontro que acabara de acontecer. Isso pelo menos até chegar o grande aguardado dia.


                                                                                                              Ass: Bruno