domingo, 30 de novembro de 2014

Contos - Maldição Infernal - part. 1

Era uma manhã linda e ensolarada, como tinha sido nos dias anteriores,o termômetro marcava 45ºC,pela terceira vez na semana,o ar estava denso e quente.Um simples andar pelas ruas ja deixava cansado,mas eu sabia que não podia relaxar com minhas obrigações.Eu estava sentado em minha poltrona de veludo ao lado de minha escrivaninha de trabalho e de frente a janela,observando o movimento lá fora.
  Eu trabalhava em um escritório chique da Policia Federal do Estado do Rio de Janeiro e vez ou outra saia em missões de campo,agora com mais frequência,devido a baixa do pessoal de campo.Um dos meus melhores amigos era o meu parceiro de trabalho,Caio,mas muitos lhe chamam de nicotina,por causa do cigarro que ele nunca tira da boca.
  Nos últimos dias,a gente vinha trabalhando em um caso interessante:artigos religiosos e supostamente místicos estão sendo roubados com freqüência e os principais suspeitos são os membros de um grupo secreto existente à alguns anos.
  Eram 15:35 quando meu celular tocou:
 __Alô,Jason?! Alôôôô!_Pela voz eu já sabia que era o Caio!
 __O que você quer cara,eu to trabalhando!
 __Seu idiota!Era sobre isso que eu queria falar.Eu segui o rastro de um desses doidos com cara de nerd.
 __Sério?! Onde você está? Eu já estou indo.__Disse eu enquanto me levantava pegando as chaves do carro.
   

   Fui até a garagem e peguei meu Honda Civic cinza escuro com motor importado.Acho que aquela belezinha chegava de  0 a 100 Km/h em 15 segundos,mas claro que nunca usei todo seu potencial.Quando o comprei pedi para que transformassem ele em um conversível,pois adoro o vento no rosto, sempre deu a sensação de poder voar.
   Eu estava indo o mais rápido possível para onde Caio me falou,Rua Violeta 295,aqui mesmo em Oswaldo Cruz. Não sei bem por que mas eu tinha uma impressão terrível que as pessoas me encaravam muito,talvez seja meu jeitinho de "play boy".Eu estava usando uma camiseta preta, uma coisa meia rockeira dos anos 90, uma munhequeira no pulso esquerdo e um spike no direito, óculos escuros na cara e quando eu me olhava no retrovisor via meus cabelos louros recém cortados pouco abaixo da orelha voando com o vento. Uma corrente com uma cruz no pescoço e outra pendurada na calça, minha pistola estava no banco do carona, e eu estava louco pra usá-la!
   O caminho estava muito ruim,parece que teve um acidente em uma das rotas mais rápidas para o meu destino,então tive que dar uma volta maior,o que me irritou um pouco.

    Ao chegar lá, reparei que Caio estava agachado perto de um latão de lixo,se escondendo. Sabia que não seria brincadeira. A alguns meses rolou o boato que esse grupo matou vinte pessoas a sangue frio,supostamente para um ritual a um desses capetinhas loucos. Esse episódio ficou conhecido como massacre do Parque São Bento.
    Ele estava usando uma camisa branca com um colete da polícia por cima, calça larga com desenho militar. Na cabeça, uma bandana segurando seus cabelos loiro-acinzentados rebeldes, e é claro,com aquele maldito cigarro na boca!!!
    Fui me juntar ao meu amigo fumante, preparado, peguei minha pistola, uma .40 básica, já esperando ter que usá-la,e me dirigi para o lado dele.
__O que está acontecendo aqui?__perguntei, para ficar entendido do assunto.
__Boa tarde pra você também!__disse ele sarcasticamente__ Três pessoas com roupas negras e capuz.Eles se dirigiam uns aos outros por nomes estranhos, como Akrael ou Calistiel, sei lá, alguma coisa assim.
__Que nomes estranhos__disse eu enquanto examinava a porta. Estávamos em frente a um deposito abandonado. A porta era grande e feita de ferro, estava com uma aparência meio enferrujada e provavelmente se abrissemos ela,não seria uma coisa silenciosa.
Do lado direito da porta tinham uns sacos grandes, pretos, com muitas moscas sobrevoando eles e com umas marcas pretas no chão envolta desses sacos. Qualquer um que visse acharia que era apenas chorume, o liquido eliminado pelos lixos das casas de todo o mundo, mas, quando você trabalha 3 anos na policia federal, sabe distinguir esse liquido de sangue ressecado, que em contato com algumas substâncias do solo acabam ficando mais escuro.
  Do lado esquerdo havia um pequeno corredor que não tinha saída,entretanto,se seguíssemos nele iriamos ver outra porta,que deveria ser a entrada dos fundos,e uma escada para o teto.
  Por mais que fosse perigoso,nós decidimos nos separar.Tiramos par ou impar  para ver por onde cada um iria,e eu fiquei com a escada.
  Prendi bem a pistola firme no cinto e subi as escadas.Admito que estava tendo um mal pressentimento sobre esse caso, mas como seria isso que pagaria minhas contas, não tenho muito o que reclamar.
  Eram vinte degraus em perfeita vertical.O sol estava forte e deixava os degraus de ferro quentes o suficiente para fazerem minhas mãos arderem.
  Quando cheguei ao topo, me vi diante de um telhado de alumínio, não esses alumínios que se encontram em qualquer telha barata de toda cidade grande,era um alumínio mais resistente, como era um depósito deveria respeitar as normas de segurança do país.
  Eu consegui me apoiar na telha e dei uma olhada em volta. Percebi que logo a frente havia uma entrada para um duto de ar, dava para eu entrar la, mas apenas rastejando. Me agachei para entrar no duto. Era bastante apertado,mas tentei fazer menos barulho possível.
  Depois de rastejar alguns metros e fazer algumas curvas,encontrei uma brecha no fundo do duto, uma grade que fazia o ar circular na sala a baixo, de la se conseguia ver dois dos três suspeitos, como Caio falou eles usavam roupas pretas, na verdade mantos negros com as partes internas cor vermelho sangue. Seus mantos eram longos e na altura da cabeça se estendiam até fazer o capuz que me falaram. O suspeito da esquerda era o mais alto e além do manto, usava um boné vermelho sujo, uma luva de couro surrado na mão direita e uma cicatriz no estilo "scar" cortando o olho esquerdo. O da direita tinha cabelo grande,lambido no estilo emo de banda pequena,tinha um piercing na sobrancelha direita,um na boca e aparentava ser o mais jovem.
  Eles estavam falando alguma coisa,e como eu estava longe não dava pra ouvir direito,mas eu comecei a respirar um pouco mais calmo e prestei muita atenção,só assim eu consegui escutar...
  __... chegando o grande dia__disse o suspeito com boné.Ele tinha uma voz meio rouca e parecia meio fanho._Diga Akrael,como vão os preparativos?
  __Estão indo bem,a quantidade de sacrifícios está quase alcançando o número desejado!_Disse o Akrael ao outro.Ele que por sua vez tinha uma voz bem mais aguda. __ Hum! Muito bem. O Mestre ficará muito feliz com seus esforços,e.....__admito que o jeito brusco que ele parou de falar me assustou__Parece que um de nossos convidados resolveu aparecer.
   
   Impossível,como aquele maldito me percebera ali?Ele estava praticamente de costas para mim e eu não havia feito nenhum barulho,como poderia saber que eu estava lá?!
   Antes de eu conseguir pensar em algum plano eu escutei um som realmente aterrorizante. O duto de ar estava cedendo com o meu peso.Tentei sair daquela direção o mais rápido possível, mas não deu, caí de mais de 5 metros com tudo,a minha sorte é que caí sobre umas caixas abandonadas que tinham no chão,o que amaciou minha queda.
   __Ora ora...se não é Jason Rodriguez na minha humilde casa.__disse o cara de boné, sorrindo de uma maneira tenebrosa.
   __Meu nome é Jeson RA-MI-REZ  seu idiota,__ disse levantando com dor nas costas__ e você está preso por assassinato,chacina,tráfico de drogas,porte ilegal de armas e por ser muito feio.__Disse eu tentando disfarçar a dor da queda.__Perae, como você sabe meu nome?__finalmente cai na real e percebi que não tinha me apresentado.
   __Ah!Meu visitante “inesperado”, eu sei muito sobre você. Todos eles me falaram que você viria.__ele disse mudando o tom de voz para alguma coisa mais irônica.
   __Eles?! Quem são eles?
   __Como assim "quem são eles?" Sua família seu idiota__ quando ele disse isso, Akrael começou a rir,o que só serviu para aumentar minha raiva. Ele não podia ter conhecido ninguém da minha família. Nem eu os conhecia. Pelo que eu sabia meus pais me abandonaram em frente a uma igreja de uma parte pequena da cidade. É claro que ele estava só tentando brincar com minha paciência.
    Em um gesto meio impulsivo, saquei minha arma.
  __Aí cara!__ puxei o cão da arma com o polegar__ Não sabia que falar da mãe é uma coisa baixa? Mais uma coisa pra lista de ocorrência, porcaria.__ele riu de maneira provocadora.
  __Não é comigo que você tem que se preocupar. Akrael,faça o que deve ser feito.
 
 "Ha,ridículo" eu pensei no início,até o franzino "emo" que estava ali parado começou a soltar uns ruídos estranhos,era como se ele estivesse rosnando para mim.O som era como trovões poderosos que estivessem dentro do depósito.Seus olhos eram castanhos.Exatamente isso que eu falei:"ERAM" castanhos.De um momento para o outro eles  ficaram avermelhados,como se um demônio tivesse entrado no corpo dele.Sei que não existe essa historia de demônios,mas é a única descrição que eu consigo imaginar.
  De maneira brusca, Akrael veio correndo em minha direção.Não me lembro se gritei para ele parar ou se eu avisei que ia atirar,o que a norma policial pede,mas quando me dei por mim eu já tinha acertado um belo tiro no peito dele.
  Sim,agora aquele magrela assustador estava no chão,jorrando sangue para todo o lado.Agora só tinha sobrado eu e o cara de boné...e o imbecil do Caio que estava demorando pra aparecer .
__Tá bom,você viu o que acontece com quem me ataca né?Agora vai se entregar ou vo ter que te meter bala também?
 __Hum.Você acha que já acabou?
 __Como assim?__maldita pergunta.Quando fiz ela , ouvi um barulho vindo de onde estava o corpo de Akrael.Me virei lentamente e me deparei com uma cena que realmente me assustou.Akrael estava vivo ainda.Ele estava se levantando,com ainda mais ferocidade do que antes.O sangue ainda escorria de seu peito,o que deixou o ambiente ainda mais medonho.
  Novamente ele veio correndo em minha direção.Pensando bem ele corria bem rápido pra alguém que tinha acabado de tomar um tiro.Conseguiu chegar em mim em uma velocidade incrível e desferiu um soco na minha barriga,que me fez voar a uns 3 metros de onde estava.
  Em condições normais eu teria desviado tranquilamente,mas eu estava paralisado de medo.Além de presenciar a suposta "reissureição" de uma pessoa,eu sentia uma presença maligna,algum tipo de pressão negra que me envolvia.
  Com a queda,minha arma saiu de minhas mãos,rolando para perto dos pés do cara de boné.Minha barriga doía muito.Eu sabia que se ficasse parado com medo iria ser massacrado por aquele cara.Eu fiquei imaginando como alguem tão pequeno como ele e que tinha acabado de tomar um tiro poderia ser tão forte, quer dizer, eu peso quase uns 90 Kg  e ele não deve passar de 65,como conseguiu me arremessar tão longe?Antes que eu pensasse mais,voltou ele a partir pra cima de mim.Me levantei e corri em direção a minha arma,mas,antes que eu pudesse alcançá-la, Akrael já tinha engatilhado um chute pra cima de mim.
   Ele deu um chute daqueles de cima pra baixo,eu consegui desviar dando um salto para o lado,o que fez que ele acertasse umas caixas de madeira e quebrando em mil pedaços,me levantei rapidamente e deferi um soco rápido bem no meio da cara,o que fez ele cambalear para trás,foi aí que encontrei a oportunidade de ficar por cima e continuei a dar socos.Uma bela seqüência de socos,todos certeiros.A cara daquele maldito ja estava sangrando muito,mas não parecia que ia desistir tão facilmente.
   Eu já estava cansado de bater. Minhas mãos doíam,o rosto dele  parecia feito de pedra.Eu estava indo bem,até ele conseguir segurar minha mão,e que força incrível,era como se ele estivesse quebrando minha mão.Por um minuto ele ficou olhando para mim,bem nos meus olhos.Ele tinha um olhar penetrante,seus olhos estavam vermelhos como sangue,o que me fazia confundir como o mesmo espalhado por toda a sua face.Eu fiquei olhando bem nos olhos dele.Não dizia nada.O silêncio tomou conta do saguão,a não ser pelo riso sombrio do rapaz de boné que estava apenas observando.
   __Agora,esse é o seu fim!__disse Akrael com uma voz que não era a que eu tinha escutado antes,uma voz que não era a dele.Essa era uma voz com um tom sobreposto ao tom de voz dele,quer dizer,a voz dele saía,mas junto com ela saía uma voz mais rouca como um martelo batendo em uma pedra.
   Quase no mesmo instante que ele me falou aquela frase,vi uma aura negra saindo de seu corpo. Aquilo paralisou minhas pernas.Era uma sombra horrível que tomava a forma de um monstro,com olhos sedentos de carne humana.Achei que aquele realmente seria meu fim,mas quando eu ia receber o golpe de misericórdia,a cabeça de Akrael explode em um barulho ensurdecedor bem na minha frente.
    

   Quando me dei por mim,percebi que um anjo tinha me salvado...........ta certo,não era bem um anjo,na verdade era o Caio que tinha dado um tiro certeiro bem no meio da testa do meu agressor.Aquele corpo que agora tinha apenas 1/3 da cabeça dele soltou minha mão e caiu.Uma cena que perturbaria os sonhos da maioria das pessoas,mas que pra mim,não sei por que,estava sendo maravilhosa.O sangue daquele monstro estava jorrando como água em uma mangueira,batendo bem no meu rosto.Agora eu só queria ver esse cretino levantar de novo!
   __Ei parece que eu cheguei na hora certa né!__disse Caio coçando a nuca com a ponta do dedão e dando uma risada sem graça.Eu percebi que sua camisa também estava suja de sangue,o que indica que deve ter tido uma bela luta.
   __Por que você demorou seu imbecil?!__perguntei ele enquanto tentava tirar o sangue da cara__Eu tive um trabalhão aqui.
   __A não vem com essa não,eu tive que espancar um babaca lá atrás.Acredita que o filha da mãe sacaneou meu cabelo?
   __Acreditaria se eu dissesse que acredito?
   
   O cabelo de Caio era um loiro com pontas pretas, quase acinzentados, e aparentava estar um pouco "desbotado",mas esse não é o importante.
   O malandro de boné estava aplaudindo e rindo.
   __In-crí-vel.Sinceramente,eu não esperava que vocês fossem tão bons assim!__disse ele
   __Ei,cala essa boca ,tu é o que menos pode falar aqui!__eu disse me virando pra ele.
  
  Ele não reagiu enquanto foi algemado pelo Caio. Chamamos a viatura para levar ele embora e uns outros ficariam para arrumar a bagunça.
  Quando ele foi posto no carro,fiz questão de acompanhá-lo no banco de trás,precisava de umas respostas!
   __Qual é o seu nome?__perguntei
   __Calistiel.__respondeu ele olhando para a janela
   __O nome verdadeiro por favor.
   __Roberto!
   __Afinal,o que aconteceu lá atrás? __fui direto ao ponto.
   __Huhuhu__ele riu daquela maneira provocadora que eu odeio.__Exatamente o que você viu.
   __Nossa,você está em uma posição bem favorável para ficar de sacanagem!__tentei usar o máximo de ironia em minhas palavras,para ele entender que estava prestes a tomar um soco.
   __Está surpreso não é?Não é todo dia que se dá um tiro em alguém e essa mesma pessoa quase te mata depois.__não é que ele foi mais irônico que eu__Isso é o que acontece depois que se vende a alma "Aquela pessoa"!
   __E quem seria "aquela pessoa"?
   __Não esquenta,em breve ele irá aparecer.Você terá muitas respostas quando esse dia chegar,mas eu já aviso:quando "ele" vier para este mundo,muita gente irá morrer!

   __Para este mundo?Como assim?Como eu posso parar ele?__perguntei cada vez mais nervoso.Depois dessa última frase de Roberto,ele não disse mais nada,só ficou olhando para a janela.Lá fora tinha começado a chover,esses pequenos temporais de verão.Eu ja não tinha mais ânimo para perguntar mais nada.Eu queria uma bela tarde de sono.O problema é que depois daquele dia eu nunca mais teria uma noite boa de sono,e boa parte daquilo foi devido a uma marca feita pela lâmina de uma faca na parte de trás do pescoço de Roberto.Era nada mais do que uma cruz de cabeça para baixo!!!!

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Meu mundo em chamas

Quase como um replay
Eu levemente venho acordando
Sabendo que nada na vida da realmente certo
E devagarzinho até a porta
Ando conseguindo sentir o calor nas paredes
Sentindo o cheiro que queima o mundo a minha volta

Nem tudo eu consigo ver
São apenas algumas das chamas, aqui tão perto de mim
E eu não sei exatamente o que pensar
As vezes ainda acredito que estou sozinho
Sem nunca mais falar o que eu realmente tenho no coração

Porem, mesmo quando o mundo se consome em chamas
Você vai tentando ficar do meu lado
Mas tudo se queima, se desfazendo pouco a pouco
Ouso tentar sorrir mais uma vez e clamo ao dizer:
"nem que um dia eu morra minha alma se livrará desse fogo"

O mundo está se desfazendo 
Sumindo com um cheiro de fumaça 
Um cheiro tão familiar quanto um dejavu diário
Eu admito que espero pelo momento de paz
Em que mesmo perto todos estarão juntos sorrindo



domingo, 19 de janeiro de 2014

O encontro

  Certo dia, dois antigos conhecidos se encontraram no alto de uma conhecida colina de Israel, esta, que dava vista para um campo de grama verde como esmeralda, em contraste com a cor simples do barro de um templo que lá havia. Um desses amigos se chamava Lucius e outro, Cristian.

  Lucius se apresentava com uma postura exemplar, ereto e com a firmeza de alguém da alta classe, vestido com um paletó de negócios impecável. Seus sapatos reluziam, eternamente bem polidos, como se não tocassem o chão arenoso, que fazia parte da área do templo. Aparentava ter uns 30 anos, com feições frias porem bem feitas, quase sem imperfeições na pele, cabelos bem cortados e bem arrumados desciam apenas para cobrir parte da orelha. Seus olhos era de um negro que se igualava a noite mais escura.

  Já Cristian era totalmente o oposto. Andava como um maltrapilho, camisa surrada, muito maior do que seu corpo pedia, repleta de remendos, tal como sua calça que, larga, arrastava no chão cobrindo quase por completo seus pés descalços. Seu cabelo era grande, enrolado e bagunçado, mas em seu rosto havia uma expressão brincalhona, era como uma criança se divertindo, com olhos azuis que brilhavam o reflexo do sol, exaltando uma pureza inominável.

Vindo de caminhos opostos, foram ao encontro um do outro, chegando no centro da colina, onde se encontravam duas pedras, uma ao lado da outra. Elas ficavam de frente a um grande buraco na parede do templo, permitindo uma bela visão da cidade abaixo da colina.

  Eles pararam um de frente para o outro:

_Olá Lucius, _ disse Cristian com uma voz doce, totalmente infantil _ faz muito tempo não é?

_Cristian. _ respondeu Lucius com frieza, se mantendo com um olhar superior _ Sim, sinto como se fosse uma era.

  Os dois se sentaram nas pedras, observando o céu azulado que pairava sobre as pessoas na cidade, que de lá de cima, pareciam meras formigas. Enquanto observavam a imensidão que era a vista que tinham, houve um momento de silêncio.

_O grande dia está chegando Cristian. _ disse Lucius quebrando o breve silencio.

_É verdade. _ começou  desenhar na areia _ Então, o que acha?

_Ora, esse lugar me parece bem diferente desde a ultima vez que nos vimos. As pessoas, elas estão diferentes.

_Também acho, mas não são todas, sabe melhor do que ninguém que não se pode julgar poucos por muitos, afinal, são esses poucos que fazem a diferença.

_Que idiotice, pare de brincar, isso não é um jogo. _ Lucius lançou um olhar de desprezo.

_Não vejo como um jogo, muito pelo contrário, eu nunca estive tão sério. Acontece que eu estou feliz, _ Cristian parou seu desenho, eram pessoas felizes com um sol iluminando _ tanto tempo esperando e o dia finalmente chegou. _ olhou para Lucius com um sorriso amigável _ só assim que posso completar minha missão sabe?

_Essa sua tal missão. Para você é fácil, quando está difícil é só chamar seu pai que tudo se resolve. Mas eu evoluí. Esses poucos bons que tem aí, eu posso mudá-los, com meu dinheiro, minha lábia, minha beleza, é fácil como transformar água em vinho.

  Cristian começou a rir

_Você é muito engraçado. Pra começar sabe melhor do que ninguém que meu pai só ajudará se assim eu merecer, e essa sua tal sedução, ela nunca funcionou, por que seria diferente agora?

  Lucius por um momento manteve um olhar de fúria para Cristian, até que finalmente estourou. Se levantou e arrastou os pés no desenho que Cristian havia feito na areia.

_Não seja tão audacioso, você se acha o melhor só porque ganhou uma vez de mim? Eu posso ser qualquer um que eu precisar, destruir o que eu quiser. Quando alguém sorrir eu estarei lá para faze-la chorar. _ disse isso aos berros batendo no peito, orgulhoso de seus feitos. _ E você? Onde você esteve esse tempo todo que eu fiz o que eu queria? Ainda acha que pode ser tão arrogante a ponto de rir de mim? Se esquece de com quem está falando?

_E você? _ Cristian o cortou, se levantando lentamente até estar olhando nos olhos de Lucius. _ Você sabe realmente com quem está falando? _ se encararam por um tempo _ Talvez eu não seja tão sedutor ou tão endinheirado quanto você, muito menos tão ardiloso. Eu também não posso "ser qualquer um" como você, mas te garanto, não é por isso que eu abandonei a quem precisava de mim. Se você faz alguém chorar, com certeza eu estarei lá para consolá-la, se não for eu, pode ser um dos meus.

_Está falando do idiota do Gabriel?

_Não só ele serpente desprezível, muitos outros. Você pode destruir, mas eu rodo o mundo ensinando a como construir, eu amostro as pessoas como é bom ter um sonho, um sorriso. _ Cristian foi andando para a abertura na parede, de onde se podia ver todo o horizonte, com o sol poente avermelhando a pequena vizinhança ao longe da colina que a muito pouco foi palco de guerras, mas hoje, representa esperança.

_Vê isso? _ perguntou a Lucius que parou ao seu lado.

_O que exatamente? _ perguntou seco.

_Simplesmente tudo. Do grandioso sol, perdido na imensidão do universo até a mínima bactéria que habita o pedaço da região mais peculiar. Tudo isso. É disso que se trata o dia que está por vir.

  Por um momento, Lucius se sentiu extasiado com a visão, se lembrou da sua vida e de tudo que nela já foi conquistado e perdido. Longe em seus pensamentos, se permitiu derramar uma breve lágrima.

_Estou com saudade de casa _ falou preso ao ultimo suspiro do sol _ o pai não deixa mais eu voltar.

_Desculpe, mas isso não vai ser possível, você já fez coisas ruins o suficiente. _ confirmou Cristian.

_Imaginei, _ secou a lágrima, voltando a si _ Bem, está na hora de ir. Ultimos preparativos. _ ficou de costas para Cristian.

_Sim, vamos finalmente resolver isso né. _ sorriu _ tem muita gente que fala nisso, acho que esperam tanto quanto agente.

  Os dois andaram, cada um para um lado se afastando aos poucos.

_Ei Cristian. _ pararam e se olharam por cima dos ombros _ É melhor tomar cuidado, porque dessa vez eu que sairei vencedor.

  Cristian voltou-se de costas mais uma vez, sorriu para si mesmo, com uma alegria que a muito não sentia, continuou a andar dizendo:

_Eu aposto a minha vida que você não vai.

  Os dois desceram a colina, desaparecendo pouco a pouco na penumbra que rodeava Israel, que apenas seguia sua vida comum, sem nunca saber do encontro que acabara de acontecer. Isso pelo menos até chegar o grande aguardado dia.


                                                                                                              Ass: Bruno